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Após megaoperação no RJ, atitude em missa com governador Cláudio Castro choca

1 dia atrás

O domingo (2) começou com uma cena que chamou atenção até mesmo de quem está acostumado com o clima político intenso do Rio de Janeiro. Durante a missa da manhã, na Paróquia Santa Rosa de Lima, na Barra da Tijuca, o governador Cláudio Castro (PL) foi recebido com aplausos de pé pelos fiéis. O gesto, registrado em vídeo e amplamente compartilhado nas redes sociais, veio poucos dias depois da Operação Contenção, ação policial que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha — o confronto mais letal já registrado no país.

Castro, que é católico praticante, músico e fundador da banda cristã “Em Nome do Pai”, costuma frequentar a paróquia com a família e até cantar louvores durante as celebrações. No último fim de semana, ele participou da missa como de costume, mas o ambiente ganhou outro tom: o padre responsável pela celebração exaltou publicamente a atuação do governador na operação e homenageou os policiais mortos em combate. O governador, visivelmente emocionado, agradeceu aos aplausos e se uniu às orações pelos agentes.

A cena, no entanto, rapidamente se tornou um dos assuntos mais comentados do domingo. Enquanto apoiadores de Castro interpretaram a ovação como um ato de reconhecimento à coragem das forças de segurança, críticos viram ali um contraste incômodo entre a liturgia cristã — centrada na defesa da vida e na compaixão — e o tom triunfalista diante de uma tragédia com mais de uma centena de mortes.

“É chocante ver uma celebração religiosa ser usada para legitimar tamanha violência”, comentou uma fiel nas redes sociais, que disse frequentar a paróquia. Em contrapartida, outro paroquiano defendeu a homenagem: “Ele é um homem de fé, e a igreja apenas demonstrou apoio num momento em que ele também carrega o peso de decisões difíceis.”

A Operação Contenção, deflagrada no dia 28 de outubro, envolveu mais de 1.200 policiais militares e teve como objetivo desarticular a cúpula do Comando Vermelho, que atua nas zonas norte e oeste da capital. O governo do estado alega que a ação foi necessária diante do crescimento das milícias e do tráfico na região. Apesar da justificativa, o número de mortos gerou repercussão internacional, com organizações de direitos humanos classificando o episódio como “massacre” e cobrando uma investigação independente.

Durante entrevista concedida no sábado (1º), Castro defendeu novamente a operação. “Não há vitória quando vidas se perdem, mas há a necessidade de garantir segurança à população de bem”, afirmou. Ainda assim, a celebração de domingo mostrou como o tema divide a sociedade fluminense — e até mesmo fiéis da mesma igreja.

O contraste entre o Evangelho pregado no altar e a realidade das favelas onde a operação ocorreu foi o ponto mais comentado por teólogos e líderes religiosos. Para muitos, aplaudir uma ação que resultou em tantas mortes contraria o princípio cristão de valorização da vida.

No final da missa, o padre fez questão de reforçar sua mensagem: “Rezemos por todos que partiram — policiais, moradores, jovens —, e que o Rio reencontre o caminho da paz.”

Mas fora dos muros da igreja, a paz segue distante. Entre fé, política e sangue derramado, o episódio mostrou que o Rio de Janeiro continua dividido entre aplausos e lamentos.


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