Menu

Sobrevivente do grave acidente de ônibus que deixou 17 mortos no PE relata tragédia: ‘gente gritando socorro’

2 semanas atrás

O grave acidente de ônibus ocorrido na noite da última sexta-feira, 17 de outubro, na BR-423, entre as cidades de Paranatama e Saloá, no Agreste de Pernambuco, deixou uma tragédia marcada por dor e desespero. O veículo, que transportava cerca de 30 passageiros, tombou após o motorista perder o controle da direção, resultando na morte de 17 pessoas e deixando várias outras feridas. Segundo informações da Secretaria de Defesa Social (SDS), entre as vítimas fatais estão 11 mulheres, quatro homens e duas pessoas ainda não identificadas. As autoridades foram acionadas imediatamente, mas o cenário encontrado pelas equipes de resgate era de destruição total.

Entre os sobreviventes, está Marlete Batista Neves Fernandes, moradora de Caetité, na Bahia, que relatou os momentos de horror vividos durante o acidente. Em entrevista à TV Sudoeste, ela contou que o grupo retornava à Bahia após um dia de compras no Polo de Confecções de Santa Cruz do Capibaribe, local conhecido por atrair comerciantes e revendedores de várias regiões do Nordeste. A viagem, que deveria ser apenas cansativa, acabou se transformando em um pesadelo para todos os ocupantes do ônibus. Marlete disse que, pouco antes da tragédia, já havia percebido que algo estava errado com a forma como o motorista conduzia o veículo.

De acordo com a sobrevivente, o motorista trafegava em alta velocidade, o que preocupou os passageiros. “Falei: o motorista está doido. Nesse momento, ele começou a fazer zigue-zague. Acho que ele tentou encostar em um barranco, e aí o ônibus tombou”, relatou, ainda abalada. O tombamento aconteceu de forma repentina, e o impacto foi tão forte que muitas pessoas foram arremessadas dentro do ônibus. Marlete lembra que o barulho de ferro se partindo e o grito dos passageiros se misturaram em um momento de puro desespero e pânico.

Logo após o impacto, ela conseguiu escapar por uma janela localizada no teto do veículo, uma das poucas rotas possíveis naquele instante. Do lado de fora, a cena era de destruição e sofrimento. “Eu só vi gente morta, sangue, gente gritando socorro. Foi uma loucura, entrei em estado de choque”, contou, emocionada. Em meio à escuridão e à confusão, moradores da região começaram a se aproximar para ajudar os feridos, enquanto o barulho das sirenes anunciava a chegada das equipes de resgate. Bombeiros e socorristas trabalharam durante horas para retirar as vítimas das ferragens.

Marlete viajava acompanhada de sua cunhada, Maria, e de uma amiga, Ilka, ambas também feridas no acidente. Ilka foi socorrida e segue em observação no hospital, mas a cunhada de Marlete ainda estava desaparecida na manhã seguinte. “Estou desesperada, tentando saber se ela está no hospital ou se já foi levada ao IML”, desabafou. A angústia de não ter informações concretas sobre o paradeiro de um ente querido aumentava o sofrimento de quem sobreviveu, intensificando o trauma vivido naquela noite.

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que o ônibus fazia o trajeto de retorno para a Bahia quando o motorista perdeu o controle em uma curva perigosa da rodovia. As causas exatas do acidente ainda estão sendo investigadas, mas há indícios de que o excesso de velocidade tenha contribuído para o tombamento. Peritos da SDS também apuram se o veículo apresentava falhas mecânicas ou irregularidades na documentação. O Instituto de Criminalística foi acionado para auxiliar na identificação das vítimas e esclarecer as circunstâncias que levaram à tragédia.

Enquanto as investigações prosseguiam, familiares das vítimas começaram a chegar aos hospitais e ao Instituto Médico Legal (IML) em busca de informações. O clima era de consternação e desespero. Muitos choravam ao reconhecer os corpos, enquanto outros aguardavam por notícias de parentes desaparecidos. O governo de Pernambuco decretou luto oficial de três dias em solidariedade às famílias, e equipes de assistência social foram enviadas para prestar apoio psicológico aos sobreviventes e parentes das vítimas.

A tragédia gerou grande comoção também em Caetité, cidade natal de vários dos passageiros. Amigos e vizinhos se reuniram em igrejas e praças para realizar vigílias e orações pelas vítimas. Muitos dos ocupantes do ônibus eram trabalhadores e pequenos comerciantes que viajavam frequentemente para Santa Cruz do Capibaribe em busca de mercadorias para revenda. A perda repentina de tantas pessoas conhecidas abalou profundamente a comunidade local, que tenta se unir em meio à dor e à incredulidade.

Especialistas em segurança viária alertam que o acidente evidencia a necessidade de fiscalização mais rigorosa nas rodovias e nas condições dos veículos utilizados em viagens interestaduais. A BR-423 é considerada uma estrada de tráfego intenso e apresenta trechos perigosos, exigindo atenção redobrada dos motoristas. O caso reacendeu o debate sobre as condições precárias de transporte de passageiros em algumas regiões do país e a urgência de políticas públicas voltadas para a prevenção de tragédias como essa.

Abalada, Marlete tenta agora encontrar forças para seguir em frente. Mesmo com os ferimentos e o trauma psicológico, ela afirma que jamais esquecerá as cenas que presenciou. “Foi horrível, uma coisa que ninguém merece ver. Só Deus sabe o que passamos ali dentro”, desabafou. O acidente na BR-423 entra para a lista das maiores tragédias rodoviárias de Pernambuco nos últimos anos, deixando não apenas vítimas e feridos, mas também uma ferida aberta em dezenas de famílias que ainda buscam respostas, conforto e justiça diante de tamanha dor.


CONTINUAR LENDO →