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Globo pede desculpas à Band por piada de William Bonner e ataque ao MasterChef

2 semanas atrás

A repercussão do Upfront 2026 da Globo, realizado na última segunda-feira, foi marcada por um misto de expectativa e constrangimento. O evento, que deveria destacar as novidades da programação para o próximo ano, acabou dominado por piadas e provocações direcionadas a concorrentes como a Band e a HBO Max. O tom adotado durante as apresentações gerou desconforto dentro e fora da emissora, levando o presidente da Globo, Paulo Marinho, a intervir pessoalmente. O executivo telefonou para Cláudio Giordani, CEO da Band, pedindo desculpas formais pelo episódio, numa tentativa de conter o desgaste institucional e preservar a relação histórica entre as famílias Marinho e Saad, marcada por respeito e cordialidade.

Tudo começou quando William Bonner, durante sua participação no evento voltado a anunciantes e agências, ironizou a saída da Fórmula 1 da Band. “No ano que vem, a Fórmula 1 está na Globo. E vocês sabem o que é Fórmula 1 ainda, né? Porque saiu da Globo… Fórmula 1 é um esporte interessante”, disse o jornalista em tom de brincadeira. A fala, que segundo fontes não constava no roteiro original, foi recebida com risos no auditório, mas provocou indignação nos bastidores da Band, especialmente entre os profissionais que trabalharam intensamente para consolidar a cobertura esportiva da emissora nos últimos anos.

A situação se agravou quando a chef Renata Vanzetto, ao lado de Ana Maria Braga, anunciou a segunda temporada do reality Chef de Alto Nível e declarou que “um episódio nosso deu mais audiência do que todas as temporadas do MasterChef juntas”. A frase, de caráter claramente provocativo, fazia parte de um texto preparado pela equipe de roteiristas da Globo. A repercussão negativa foi imediata. Nas redes sociais, internautas e profissionais da Band criticaram a falta de respeito, enquanto Renata se apressou em afirmar que apenas seguiu o roteiro fornecido, tentando se distanciar da polêmica.

O clima de deboche se estendeu até o fim do evento. Em um momento aparentemente descontraído, Sabrina Sato comentou sobre o destaque dado ao Globoplay, e Fábio Porchat respondeu: “Pô, Sabrina, você queria que a gente falasse do quê? Da Band?”. A plateia riu, mas o comentário reforçou a percepção de que o humor havia ultrapassado o limite do aceitável. Internamente, executivos da Globo avaliaram que as piadas acabaram ofuscando o propósito do Upfront, que era apresentar as novidades comerciais e artísticas para 2026. O resultado foi um evento lembrado mais pelas provocações do que pelas atrações anunciadas.

A HBO Max também não escapou das ironias. O ator Eduardo Sterblitch se referiu à personagem Lola, vilã vivida por Camila Pitanga em Beleza Fatal, como “Bebel da 25 de Março”, numa alusão depreciativa à famosa prostituta interpretada pela atriz em Paraíso Tropical. A comparação foi vista como um ataque gratuito a uma produção que vinha ganhando destaque nas redes sociais. Nos bastidores, o comentário foi interpretado como um sinal de incômodo da Globo com o sucesso da concorrente, o que ampliou o desgaste da emissora entre profissionais do setor.

Diante da repercussão negativa, a Globo publicou uma nota oficial no perfil da Globo Ads no Instagram, afirmando que as comparações feitas no evento não tinham a intenção de “desmerecer o trabalho de outros players e profissionais”. No entanto, a resposta foi considerada insuficiente por parte do público e do mercado publicitário, que esperavam um posicionamento mais direto e assertivo. Diante disso, Paulo Marinho decidiu agir pessoalmente, reconhecendo que o tom do evento havia sido inadequado e que medidas internas seriam tomadas para evitar novos episódios semelhantes.

Dentro da emissora, o caso gerou reflexões sobre o processo de criação dos roteiros do Upfront. A avaliação é de que houve uma “juniorização” da equipe responsável pelos textos, formada majoritariamente por roteiristas jovens e sem a devida supervisão de executivos mais experientes. A ausência de uma revisão criteriosa teria permitido que as provocações fossem mantidas, sem que se percebesse o potencial de desgaste institucional. A cúpula concluiu que o humor utilizado passou do ponto e acabou comprometendo a imagem de seriedade que a Globo tenta preservar junto aos anunciantes.

Além do impacto na relação com a Band e a HBO Max, a polêmica expôs um desconforto maior sobre a postura da Globo no atual cenário midiático. Analistas apontaram que, ao direcionar críticas a concorrentes de menor alcance, a emissora demonstrou insegurança. Dados da Kantar Ibope indicam que a HBO Max representa apenas 0,3% do consumo de vídeo residencial no país, enquanto a Globo ultrapassa 30%. O verdadeiro desafio da emissora, segundo especialistas, seria reforçar sua presença diante de plataformas digitais como o YouTube, que hoje supera qualquer canal de TV aberta em alcance.

O evento, que deveria servir como vitrine para os novos projetos, acabou sendo eclipsado pelas controvérsias. As falas de Bonner, Vanzetto, Porchat e Sterblitch dominaram as manchetes e as redes sociais, desviando a atenção das novidades, como o novo programa de Eliana e as próximas novelas da emissora. Para muitos, a Globo acabou transmitindo uma imagem de arrogância e excesso de autoconfiança, minando o impacto positivo que esperava causar entre os anunciantes.

Nos bastidores, o episódio foi visto como um reflexo do momento de tensão vivido pela emissora. A perda gradual de audiência para o ambiente digital, a concorrência com plataformas de streaming e a pressão por resultados comerciais mais expressivos têm exigido da Globo uma readequação em seu discurso institucional. O Upfront 2026, que deveria consolidar uma imagem de modernidade e liderança, terminou expondo fragilidades. Ao recorrer ao humor como estratégia de afirmação, a emissora acabou ultrapassando o limite do respeito e revelou que, em tempos de competição acirrada, a linha entre a autoconfiança e o constrangimento é tênue demais para ser ignorada.


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