Um trágico acidente aéreo ocorrido na noite da última terça-feira (23) abalou o Pantanal sul-mato-grossense e o cenário cultural e arquitetônico internacional. Quatro pessoas morreram após a queda de uma aeronave de pequeno porte na zona rural de Aquidauana, em uma região que se tornou emblemática ao servir de cenário para a novela Pantanal, da TV Globo, e que é hoje um dos principais destinos turísticos do Brasil. Entre as vítimas estavam dois cineastas brasileiros, o piloto do avião e o arquiteto chinês Kongjian Yu, um dos nomes mais respeitados do mundo na arquitetura contemporânea.
De acordo com informações do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil, a aeronave caiu em uma área da Fazenda Barra Mansa, propriedade que recebe visitantes do mundo todo interessados em conhecer a riqueza natural do bioma. O avião era pilotado por Marcelo Pereira de Barros, que também era dono da aeronave. Além dele, perderam a vida o arquiteto Kongjian Yu, o cineasta documentarista Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e o diretor e documentarista Rubens Crispim Jr. As causas do acidente ainda estão sendo apuradas pelas autoridades, que investigam tanto possíveis falhas mecânicas quanto as condições meteorológicas no momento da tragédia.
A notícia repercutiu com intensidade entre profissionais do audiovisual e da arquitetura, já que as vítimas desempenhavam papéis importantes em seus campos de atuação. Kongjian Yu, por exemplo, esteve recentemente no Brasil como uma das atrações da Bienal de Arquitetura em São Paulo, onde apresentou suas ideias inovadoras sobre sustentabilidade urbana. Reconhecido internacionalmente, Yu desenvolveu o conceito das chamadas “cidades-esponja”, uma proposta para enfrentar os impactos das mudanças climáticas a partir da integração entre espaços urbanos e soluções baseadas na natureza. Sua presença no Pantanal estava diretamente ligada a esse interesse: compreender de perto um dos ecossistemas mais importantes do planeta.
Amigos próximos relataram que Yu e o cineasta Luiz Fernando Ferraz trabalhavam em conjunto na produção de um documentário justamente sobre a aplicação das “cidades-esponja” em diferentes contextos. A visita ao Pantanal fazia parte desse processo criativo, unindo cinema, ciência e arquitetura em uma narrativa que pretendia levar ao público global uma reflexão sobre a necessidade de construir cidades mais resilientes às enchentes, à escassez de água e aos efeitos extremos do clima. O projeto, agora interrompido de forma abrupta, simbolizava uma ponte entre Brasil e China em torno de questões ambientais urgentes.
No meio cinematográfico, a perda de Ferraz e de Crispim Jr. também foi sentida com profunda comoção. Ambos dedicaram suas carreiras a documentários que valorizavam a cultura e a natureza brasileiras. Ferraz, em particular, era conhecido por produções que exploravam a relação entre o homem e o meio ambiente, enquanto Crispim Jr. se destacava pela habilidade de dar visibilidade a histórias regionais com linguagem universal. Para colegas de profissão, o acidente representa não apenas a perda de vidas, mas também de futuros trabalhos que poderiam contribuir para ampliar o alcance da produção documental brasileira no cenário internacional.
A morte de Kongjian Yu foi lamentada por arquitetos e urbanistas em todo o mundo. Considerado visionário, ele defendia que as cidades modernas deveriam aprender com os sistemas naturais, adotando soluções simples, mas eficazes, como parques alagáveis e áreas verdes integradas ao planejamento urbano. Seus projetos ganharam destaque global, sendo aplicados em diversas metrópoles chinesas e estudados por universidades ocidentais. “Sua ausência deixa uma lacuna imensurável”, afirmou um colega em depoimento emocionado, lembrando que Yu não se limitava a projetos técnicos, mas também se dedicava à formação de novas gerações de arquitetos com um olhar mais humano e ecológico.
Enquanto autoridades investigam as circunstâncias do acidente, amigos, familiares e admiradores das vítimas se preparam para homenagear seus legados. A tragédia em Aquidauana expõe não apenas a fragilidade da vida, mas também a importância de trabalhos que transcendem fronteiras, seja por meio da arte, da arquitetura ou da ciência. O Pantanal, palco desse episódio doloroso, permanece como testemunha da união entre culturas e talentos que buscavam transformar a forma como o ser humano se relaciona com o mundo. E, embora a dor da perda seja irreparável, o impacto das ideias e das obras desses profissionais seguirá vivo, inspirando novas gerações a dar continuidade ao que eles começaram.