O silêncio das águas do Rio Negro foi interrompido por um acidente trágico que abalou a rotina de Iranduba, município localizado a poucos quilômetros de Manaus. Na noite do último sábado (20), uma colisão entre uma lancha e uma moto aquática deixou três pessoas mortas e um sobrevivente. O episódio não apenas trouxe dor para famílias ribeirinhas, mas também levantou uma discussão urgente sobre a segurança do tráfego aquaviário na região amazônica, onde rios funcionam como verdadeiras estradas.
Entre as vítimas estão Marcileia Silva Lima, de 37 anos, o pequeno Jhon, de apenas cinco meses, e Pedro Batista, de 42 anos, amigo da família. Eles acompanhavam Geovane Gonzaga, de 30 anos, o único sobrevivente da tragédia. Em choque, Geovane relatou momentos de desespero vividos logo após a batida. Segundo ele, a lancha retornava da comunidade Saracá quando foi atingida repentinamente por uma moto aquática conduzida por Robson Tiradentes, empresário conhecido no ramo de eventos, que também ficou ferido.
A escuridão da noite e a falta de iluminação natural aumentaram a gravidade do acidente. Geovane afirmou que o grupo utilizava uma lanterna para sinalizar o trajeto, mas a moto aquática surgiu de forma inesperada logo após uma curva, impossibilitando qualquer reação do piloto da lancha. O impacto foi tão forte que deixou o sobrevivente inconsciente. Ao despertar, já na água, ele percebeu que a embarcação estava afundando e não conseguiu encontrar seus familiares.
Ferido e desorientado, Geovane reuniu forças para nadar até a margem. Conseguiu alcançar um bote parcialmente danificado e, mesmo com dificuldade, atravessou até uma comunidade próxima. Sem comunicação — já que o celular havia sido inutilizado pela água —, precisou se abrigar no mato até ser localizado por familiares. A busca pelos corpos das vítimas mobilizou equipes do Corpo de Bombeiros, que, no dia seguinte, confirmaram a pior notícia: todos haviam morrido na colisão. Os corpos foram encaminhados ao Instituto Médico Legal, em Manaus, para os procedimentos de praxe.
O condutor da moto aquática, Robson Tiradentes, também sofreu ferimentos e precisou ser submetido a uma cirurgia no rosto. Sua presença no acidente trouxe ainda mais repercussão ao caso, devido à notoriedade no setor de eventos da capital. Apesar de não haver informações oficiais sobre seu estado de recuperação, o episódio reacendeu o debate sobre responsabilidade no uso de embarcações em rios movimentados, especialmente durante a noite.
Especialistas em segurança aquaviária reforçam que a navegação noturna exige cuidados adicionais. O uso de coletes salva-vidas, sinalizadores adequados e o respeito aos limites de velocidade são medidas básicas que poderiam evitar tragédias como a registrada em Iranduba. Além disso, a fiscalização das autoridades é apontada como fundamental para coibir comportamentos de risco, sobretudo em áreas de uso misto, onde convivem barcos de transporte, lanchas particulares e equipamentos de lazer como jet skis.
Mais do que números, os acidentes nos rios amazônicos carregam histórias de famílias destruídas e comunidades impactadas. A tragédia do último sábado traz à tona uma reflexão necessária: até que ponto a imprudência e a falta de fiscalização continuarão ceifando vidas nas águas que são o coração da Amazônia? O Rio Negro, imenso e imponente, é também cenário de dramas humanos que poderiam ser evitados com responsabilidade, respeito às normas e uma cultura de segurança que precisa, urgentemente, sair do papel.