Um episódio inusitado e preocupante mobilizou o distrito de Extrema, em Porto Velho (RO), na manhã da última segunda-feira (22). Uma onça-pintada foi flagrada circulando pelas ruas da comunidade e chegou a se aproximar de uma creche local, provocando pânico entre os moradores. No esforço de proteger as crianças, um morador acabou ferido ao tentar conter o felino, que só foi capturado no dia seguinte, após uma longa operação de resgate coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O animal foi avistado por volta das 10h da manhã, quando moradores notaram sua presença em quintais e terrenos próximos às residências. Desde então, o felino passou a vagar pela comunidade, despertando medo, mas também curiosidade. Nardeli dos Santos Silva, um dos moradores da região, relatou que a situação se agravou quando a onça, acuada pelo movimento de pessoas, saltou a janela de uma casa e seguiu em direção à creche. Foi nesse momento que ele, preocupado com a segurança das crianças, tentou intervir. A atitude corajosa, porém, resultou em um ferimento leve, causado pelas garras do animal. “Ela estava nessa casa aqui, mas o movimento de gente a deixou agitada. Pulou a janela e saiu em direção à creche, quando fui tentar contê-la”, contou à Rede Amazônica.
De acordo com informações do Ibama, a vítima foi socorrida rapidamente e recebeu atendimento médico, sem risco de complicações. Já a onça, exausta após horas de deslocamento pela área urbana, se tornou alvo de uma operação que mobilizou agentes ambientais, policiais militares e moradores locais. A captura, que durou cerca de dez horas, só foi concluída na manhã de terça-feira (23), quando a equipe conseguiu sedar o felino em segurança, evitando maiores riscos para a comunidade. “Apesar do susto, a operação foi concluída com êxito, preservando a vida da onça e devolvendo a tranquilidade ao distrito”, informou o órgão em nota oficial.
Após a contenção, o animal foi encaminhado ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), onde passou por exames veterinários. Segundo técnicos envolvidos, a onça apresentava sinais de estresse e cansaço, mas sem ferimentos graves. O destino previsto é a devolução à natureza, em área de floresta preservada e distante da população, garantindo a segurança tanto do felino quanto dos moradores. A operação de resgate destacou não apenas a habilidade das equipes em lidar com situações de risco, mas também a necessidade urgente de medidas preventivas diante do avanço dos conflitos entre humanos e animais silvestres na região amazônica.
Especialistas ouvidos pelo Ibama ressaltaram que a presença de uma onça-pintada em área urbana não é fruto do acaso. Extrema, distrito localizado na divisa com a Bolívia, é cercado por floresta densa e terras indígenas, mas tem sofrido com a pressão do desmatamento e das queimadas. Essas alterações ambientais reduzem o habitat natural dos grandes felinos, empurrando-os para regiões povoadas em busca de alimento e abrigo. Vídeos gravados por moradores mostram o animal deitado, aparentemente exausto, em frente a uma residência, cena que evidencia o impacto do estresse sobre a onça ao se ver encurralada em meio a ruas e casas.
A comoção provocada pelo caso também reforça a importância da conscientização da população diante de situações semelhantes. O Ibama orienta que moradores não tentem intervir por conta própria, evitando colocar em risco suas vidas e a integridade do animal. A recomendação é acionar imediatamente os órgãos competentes, como a Polícia Militar Ambiental ou o próprio Ibama, que possuem equipes treinadas para lidar com esse tipo de ocorrência. “A interação direta pode ser perigosa para ambos os lados. Quanto mais rápido o chamado, maior a chance de um desfecho seguro”, destacou um técnico do órgão.
Enquanto o distrito de Extrema retoma sua rotina após dias de tensão, o episódio serve de alerta sobre os desafios crescentes da convivência entre comunidades amazônicas e a fauna silvestre. O caso de Nardeli dos Santos Silva, que se arriscou em defesa das crianças, trouxe à tona tanto o espírito solidário da população local quanto a urgência de políticas públicas voltadas para a preservação do meio ambiente. A onça-pintada, símbolo da biodiversidade brasileira, foi salva, e a comunidade respira aliviada. No entanto, especialistas lembram que novas situações semelhantes podem ocorrer, a menos que as causas profundas do problema — como o desmatamento e os incêndios florestais — sejam enfrentadas de forma efetiva.