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Ratinho acaba com a raça de Junior, após o cantor dizer que é contra a anistia de Bolsonaro

2 dias atrás

O apresentador Carlos Massa, conhecido nacionalmente como Ratinho, voltou a protagonizar polêmicas ao criticar duramente o cantor Júnior Lima, que se manifestou contra o projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. A declaração de Ratinho ocorreu em seu programa “Turma do Ratinho”, transmitido pela rádio Massa FM na última sexta-feira (19), e rapidamente repercutiu nas redes sociais e na imprensa. O episódio evidencia como a música e o entretenimento seguem entrelaçados ao debate político brasileiro, onde artistas e comunicadores assumem papéis ativos em disputas ideológicas.

Ratinho, que é um declarado apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, interpretou a fala de Júnior Lima como um “ataque gratuito” ao projeto que busca absolver os envolvidos na invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília. Em tom crítico, o apresentador questionou o talento do músico e fez comparações com sua irmã, Sandy. “Lamentavelmente, ele não tem talento como a irmã. Primeiro, ele tentou ser roqueiro, os roqueiros não o quiseram. Roqueiro não gosta de sertanejo. Ele nunca cantou, quem canta é a Sandy. Ele tem um grupo, que é uma bosta, mas tem. Falou bobagem”, disparou Ratinho durante a transmissão.

O estopim para o embate foi a apresentação de Júnior Lima no festival The Town, realizado no último sábado (13). No palco, o cantor emocionou o público ao homenagear o pai, Xororó, e o tio, Chitãozinho, interpretando a clássica “Sinônimos”. Relembrou ainda sucessos da época em que formava dupla com Sandy, como “Enrosca” e “Cai a Chuva”. Mas foi durante esse momento de nostalgia que Júnior transformou o show em espaço político, ao protestar contra a anistia defendida por Bolsonaro. Sem rodeios, gritou para o público: “Anistia é o c**!”**. A frase, captada em vídeos que viralizaram nas redes sociais, gerou aplausos da plateia, mas também críticas acaloradas.

A reação do campo bolsonarista foi imediata. Diversos apoiadores interpretaram a fala de Júnior como um desrespeito à proposta que, para eles, busca corrigir excessos de punições contra os manifestantes de 8 de janeiro. Ratinho ecoou esse sentimento ao afirmar que os sertanejos, em sua maioria, estiveram ao lado de Bolsonaro durante a campanha presidencial e, por isso, seriam alvo frequente de ataques. “A maioria dos sertanejos entrou na campanha política a favor do Bolsonaro. Eu também. Nós perdemos a eleição, mas vejam como são as coisas. Os sertanejos são criticados”, disse o apresentador, posicionando-se como porta-voz de uma categoria que mistura palco, microfone e militância.

O episódio expõe mais uma vez a fissura cultural que atravessa o Brasil desde as eleições de 2018. Se de um lado artistas da MPB, do pop e do rock têm se manifestado contra projetos ligados ao bolsonarismo, do outro, figuras do sertanejo universitário e comunicadores populares alinham-se ao discurso do ex-presidente. A crítica de Ratinho a Júnior não se limita à música: é uma tentativa de reforçar um campo de resistência cultural no qual artistas ligados ao sertanejo se tornaram símbolos de apoio político, e qualquer ruptura nesse alinhamento é recebida como provocação.

Especialistas em cultura e comunicação analisam o caso como parte de um movimento maior de politização da arte e da música no Brasil. O palco, que antes era visto apenas como espaço de entretenimento, passou a ser arena de posicionamentos contundentes. Para os artistas, expressar opinião é um direito inegociável; para os críticos, é um risco de transformar a música em palanque. O embate entre Ratinho e Júnior Lima sintetiza essa tensão: um lado defende a liberdade de manifestação artística, mesmo que confrontando projetos políticos, enquanto o outro exige respeito a figuras e pautas com forte apelo popular.

Apesar das críticas, Júnior Lima não recuou e ganhou apoio de colegas da classe artística, que enxergaram em sua fala uma defesa da democracia e um posicionamento contra o apagamento de responsabilidades pelos atos de violência de 8 de janeiro. Ratinho, por sua vez, fortaleceu seu papel como comunicador alinhado à direita, mantendo a polarização acesa e garantindo repercussão para seu programa. O que poderia ser apenas um comentário isolado no rádio acabou por alimentar mais um capítulo da disputa política que atravessa não só o Congresso, mas também os palcos, as rádios e os lares brasileiros.


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