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Em plena sexta-feira notícia sobre Bolsonaro é confirmada

1 hora atrás

As manifestações do último domingo (21) mudaram o rumo da discussão política em Brasília e colocaram em xeque o futuro do projeto de anistia ampla em análise no Congresso Nacional. A proposta, que já enfrentava resistências internas, agora se vê ainda mais fragilizada diante da pressão popular e da falta de entusiasmo das principais legendas da Casa. O PL (Partido Liberal), legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, avalia que a medida “murchou” diante do cenário atual. O PT (Partido dos Trabalhadores), por sua vez, reforçou posição contrária a qualquer tipo de perdão, adotando uma postura de cautela que reflete a sensibilidade do momento político.

O relator do projeto, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), tenta reagir à perda de apoio articulando uma nova estratégia. Em vez de insistir na versão original da anistia, ampla, geral e irrestrita, ele propõe uma modificação do texto, focada na chamada “dosimetria das penas” — ou seja, na calibragem e eventual redução de punições. O movimento tem como objetivo conquistar o apoio do chamado Centrão, grupo de parlamentares pragmáticos que costuma ser decisivo em votações. No entanto, a mudança de rota não elimina os impasses: de um lado, um PL dividido entre sua base mais radical e alas pragmáticas; de outro, um PT inflexível em relação ao tema.

A tentativa de Paulinho de associar a votação do projeto de anistia a outra pauta de grande impacto — a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil — gerou desconforto imediato entre os petistas. A declaração foi vista como uma forma de pressionar o governo federal, que defende a ampliação da faixa de isenção como medida prioritária. Ao atrelar os dois debates, o relator acabou abrindo espaço para críticas de que estaria instrumentalizando um benefício social em troca de concessões jurídicas. Esse movimento aumentou a resistência da base governista e evidenciou as dificuldades em encontrar consenso.

A posição do PT é clara: a legenda reafirmou resolução interna que veta qualquer apoio a medidas de anistia, inclusive em versões mais brandas. Para os petistas, discutir perdão ou redução de penas neste momento equivaleria a sinalizar fragilidade institucional, especialmente em meio às recentes decisões judiciais e ao cenário internacional de atenção ao fortalecimento da democracia. A legenda avalia que um recuo poderia ser interpretado como retrocesso, algo incompatível com o discurso de defesa das instituições que vem adotando desde o início do atual governo.

No campo oposto, o PL reconhece que o projeto perdeu tração. Dirigentes da legenda admitem que a defesa de uma anistia ampla está restrita ao núcleo mais radical do bolsonarismo, conhecido como “raiz”. Esse grupo continua pressionando pela aprovação, mas já não encontra eco suficiente nem dentro da própria bancada. A avaliação corrente é que insistir na pauta agora poderia isolar ainda mais o partido, em vez de fortalecer sua posição no Congresso. Essa percepção levou a um recuo estratégico: reorganizar as forças, repensar o discurso e, possivelmente, adiar a discussão para um momento de menor desgaste.

Outro ponto que se soma às dificuldades é a repercussão das manifestações sobre outras propostas que tramitavam em paralelo, como a chamada PEC da Blindagem. O texto, que previa mudanças no alcance das investigações contra parlamentares, também foi afetado pela pressão das ruas. A opinião pública se mostrou contrária ao que foi percebido como tentativas de autoproteção da classe política, obrigando líderes partidários a adotar uma postura mais cautelosa. O efeito dominó acabou enfraquecendo não apenas o projeto de anistia, mas todo um conjunto de iniciativas que pareciam avançar de forma coordenada.

Nesse cenário, o Centrão ganha ainda mais relevância. Sua posição poderá definir se a versão moderada do projeto terá alguma chance de prosperar ou se será engavetada de vez. Contudo, mesmo entre os parlamentares desse grupo, o clima é de prudência. Muitos avaliam que a prioridade, neste momento, deve ser atender demandas econômicas da população, como a redução da carga tributária e a geração de empregos, em vez de se envolver em debates jurídicos de alto custo político. Enquanto isso, a anistia, que chegou a ser uma das pautas mais comentadas nos bastidores do Congresso, caminha para se tornar um tema incômodo e de difícil retorno.


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