O cenário político brasileiro ganhou novos contornos nesta semana com a revelação de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria dado sinal verde para que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), dispute a Presidência da República em 2026 com seu apoio declarado. A movimentação, que vinha sendo especulada há meses, agora começa a ganhar corpo em reuniões de bastidores envolvendo lideranças de peso do Progressistas (PP) e do União Brasil, dois partidos centrais para a construção de uma aliança robusta. A notícia traz expectativa e apreensão para aliados e adversários, pois mexe diretamente com o tabuleiro eleitoral antes mesmo do ano pré-eleitoral.
O acordo, segundo interlocutores, foi costurado em silêncio nos últimos meses e consolidado com a bênção de Bolsonaro, que continua sendo a principal referência para o eleitorado conservador no país. A presença do ex-presidente na disputa de 2026 ainda era tratada como uma possibilidade, mas as recentes dificuldades jurídicas enfrentadas por ele, somadas à estratégia de manter vivo o seu capital político, levaram a uma redefinição dos planos. Ao colocar Tarcísio como seu candidato, Bolsonaro sinaliza que pretende continuar como grande fiador da direita, mas agora atuando como articulador e apoiador de primeira linha.
O passo seguinte, no entanto, ainda é motivo de divergência entre os aliados. Há um impasse em torno do momento certo para anunciar oficialmente a decisão. Parte dos articuladores defende que a declaração pública seja feita apenas no fim do ano ou no início de 2026. O raciocínio é claro: quanto mais tarde a confirmação, menor será a possibilidade de críticas de que Tarcísio estaria usando o governo de São Paulo como mero trampolim para chegar ao Planalto. Essa estratégia também daria tempo para consolidar entregas de gestão em São Paulo e reforçar a imagem de gestor técnico, que foi um dos pilares da vitória do governador em 2022.
Por outro lado, há quem considere arriscado prolongar a indefinição. O receio é que adversários consigam ocupar espaços e atrair apoios enquanto o grupo de Bolsonaro e Tarcísio hesita em oficializar o projeto. A avaliação é que, com o ambiente político cada vez mais acelerado e polarizado, qualquer demora pode custar caro na corrida presidencial. Nesse contexto, ganha peso o fator mais imprevisível da equação: o próprio Jair Bolsonaro. Conhecido por decisões intempestivas e movimentos inesperados, o ex-presidente pode decidir antecipar o anúncio a qualquer momento, transformando um cálculo estratégico em um gesto político de impacto.
Tarcísio, por sua vez, tem se movimentado com cautela. Sua agenda em São Paulo segue intensa, marcada por entregas de obras, anúncios de investimentos e uma narrativa de modernização da máquina pública. Nos bastidores, contudo, a pauta presidencial já domina as conversas. O governador deve se reunir com Bolsonaro na próxima semana para alinhar os próximos passos. A visita, autorizada pela Justiça para o dia 29 de setembro, entre 9h e 18h, será um momento-chave para consolidar o entendimento entre padrinho e afilhado político. A expectativa é que dali saia uma diretriz mais clara sobre como conduzir a comunicação da possível candidatura.
O movimento também sinaliza uma tentativa de reorganização da direita brasileira. Depois da derrota em 2022 e diante do fortalecimento do governo Lula (PT) em algumas frentes, líderes conservadores buscam rearticular suas forças. Tarcísio, que carrega a imagem de gestor eficiente e dialoga tanto com o eleitorado bolsonarista quanto com setores mais moderados, surge como peça estratégica para manter a unidade em torno do projeto político iniciado por Bolsonaro em 2018. O desafio, contudo, será conciliar essa base com partidos do centrão, que tendem a colocar condições duras para aderir à candidatura.
Enquanto isso, os adversários acompanham com atenção cada movimento. O PT já trabalha com a possibilidade de Lula tentar um novo mandato ou lançar um sucessor em 2026. Outros partidos de centro também enxergam espaço para construir alternativas diante da polarização que se desenha entre lulismo e bolsonarismo. Nesse tabuleiro, a entrada oficial de Tarcísio pode acelerar definições e abrir uma nova fase de disputas intensas. Até lá, a incerteza quanto ao calendário e às estratégias de anúncio mantém a política nacional em clima de suspense — um suspense que, como se sabe, Bolsonaro sabe explorar como poucos.