Quando alguém se depara com uma lacraia em casa, a reação mais comum é de susto e repulsa. Rápidas, de aparência assustadora e conhecidas pelas inúmeras pernas, essas criaturas costumam ser vistas como ameaças imediatas, levando muitas pessoas a matá-las sem pensar duas vezes. No entanto, especialistas alertam: apesar da fama negativa, as lacraias exercem um papel fundamental no equilíbrio do meio ambiente e, inclusive, podem ser grandes aliadas no controle de pragas dentro de residências e jardins.
As lacraias, pertencentes ao grupo dos quilópodes, são predadores natos. Alimentam-se de insetos como baratas, cupins, grilos e até aranhas. Esse comportamento predatório faz delas um “inseticida natural”, que ajuda a manter sob controle populações de animais considerados pragas urbanas. Ou seja, ao eliminar uma lacraia, podemos estar comprometendo um importante agente de equilíbrio ecológico, responsável por evitar que outros insetos indesejados se multipliquem de forma descontrolada.
Outro ponto relevante é que as lacraias são indicadores de ambientes saudáveis. Elas preferem locais úmidos, ricos em matéria orgânica e com abundância de presas. Quando aparecem em casas, geralmente é sinal de que o espaço oferece condições favoráveis para sua sobrevivência — o que pode estar relacionado a infiltrações, acúmulo de lixo ou excesso de insetos. Nesse sentido, a presença da lacraia funciona como um alerta natural de que há algo no ambiente precisando de atenção.
É verdade que o veneno das lacraias pode causar dor e inchaço em humanos, especialmente em crianças e pessoas alérgicas. Contudo, na maioria dos casos, suas picadas não representam risco de morte, apenas desconforto temporário. Muito do medo que cerca esses animais vem de mitos e exageros populares. Ao contrário do que muitos acreditam, elas não atacam pessoas deliberadamente; geralmente, só picam quando se sentem ameaçadas ou são manipuladas. Portanto, o perigo é muito menor do que se costuma imaginar.
Em vez de matar lacraias, especialistas recomendam adotar medidas de prevenção e convivência. Manter a casa limpa, vedar frestas, evitar acúmulo de entulho e controlar a umidade são estratégias que reduzem a chance de contato com esses animais. Em jardins, é aconselhável utilizar luvas ao mexer na terra ou em troncos, já que esses locais são esconderijos comuns. Caso uma lacraia seja encontrada dentro de casa, a melhor atitude é removê-la com segurança para o exterior, evitando o contato direto.
Do ponto de vista ecológico, cada lacraia desempenha um papel insubstituível. Elas fazem parte de uma complexa rede alimentar e ajudam a manter a biodiversidade em equilíbrio. Ao eliminar indiscriminadamente esses animais, contribuímos para o desequilíbrio ambiental, o que pode levar à proliferação de insetos nocivos e até ao aumento do uso de pesticidas químicos, prejudiciais não apenas à fauna, mas também à saúde humana. Preservar as lacraias é, portanto, também uma forma de preservar o equilíbrio natural de nossos ecossistemas.
Mais do que apenas “bichos assustadores”, as lacraias são agentes silenciosos que atuam para o benefício do ambiente onde vivem. Reconhecer sua importância e aprender a conviver com elas é um passo essencial para superar preconceitos e enxergar além da primeira impressão. Em tempos em que tanto se fala sobre sustentabilidade e preservação ambiental, proteger até mesmo os seres menos carismáticos, como as lacraias, revela-se uma atitude de respeito à natureza e de consciência ecológica. Afinal, em um mundo interligado, cada criatura tem sua função — e até os animais que mais tememos podem ser nossos maiores aliados.
