A quebra do sigilo telefônico de Washington César Braga da Silva, mais conhecido como Grandão, escancarou uma relação incômoda entre o crime organizado e parte da polícia no Rio de Janeiro. Em meio às investigações que embasaram a recente megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão — uma das mais letais da história do estado, com 121 mortos —, veio à tona uma troca de mensagens que deixou até os investigadores surpresos.
Em uma das conversas, o major da Polícia Militar Ulisses Estevam aparece pedindo ajuda a Grandão para recuperar um carro roubado. A mensagem é direta: “Preciso recuperar. Carro do 01. Esse eu tenho que resolver”, escreveu o oficial, que inclusive enviou a foto do veículo. O caso, segundo o relatório da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), teria ocorrido no Morro da Fé, na Penha, no fim de abril deste ano.
Três dias depois do roubo, o carro foi localizado e devolvido — após Grandão acionar administradores de grupos da região. Documentos obtidos pela imprensa apontam que ele mobilizou integrantes do chamado “CPX da Penha”, grupo que atua como um “centro de controle” informal das comunidades, misturando funções de vigilância e influência criminosa.
O episódio, por si só, já seria grave. Mas o que mais chama atenção é o contexto. Ulisses Estevam, ainda na ativa, figura como gestor estratégico da 5ª UPP/23º BPM. Segundo o Portal da Transparência, ele recebe remuneração bruta acima de R$ 26 mil — e salário líquido de cerca de R$ 18 mil. Mesmo assim, suas conversas revelam uma relação de dependência com um homem acusado de ser um dos principais articuladores do tráfico na região.
A rede por trás da influência
As mensagens anexadas ao inquérito mostram que Grandão mantinha um sistema de comunicação com policiais e traficantes simultaneamente. Ele controlava o que os relatórios chamam de “pagamentos de arrego” — propinas destinadas a reduzir a repressão policial e permitir o funcionamento das atividades ilícitas.
Um detalhe curioso chamou atenção dos investigadores: Grandão usava um telefone exclusivo apenas para conversar com policiais. Além disso, era ele quem administrava escalas de segurança, eventos comunitários e até bailes funk, muitas vezes com a conivência de agentes públicos.
Planilhas apreendidas pela DRE exibem anotações com gastos de cerca de R$ 39 mil mensais, sendo R$ 4,5 mil reservados para o “arrego”. Os documentos também mencionam nomes como Doca, Pedro Bala e Gadernal, apontados como chefes locais que controlavam pontos estratégicos nas comunidades da Penha e do Alemão.
Silêncio e desconfiança
Até o momento, nem a Polícia Militar nem a Secretaria de Segurança Pública se manifestaram oficialmente sobre o caso. Internamente, o episódio reacendeu o debate sobre o controle de conduta de oficiais e o alcance da corrupção dentro das corporações.
A operação que revelou todo esse esquema — e terminou com mais de uma centena de mortos — tem sido duramente criticada por organizações de direitos humanos, que cobram explicações sobre a atuação policial e a falta de transparência nos relatórios oficiais.
Enquanto o caso se desenrola, a Penha segue sob tensão. Moradores relatam medo constante, operações quase diárias e a sensação de que, por trás dos tiros, há uma engrenagem muito mais complexa do que a simples guerra entre polícia e tráfico. Uma engrenagem que, ao que tudo indica, mistura farda, favela e poder.





















Jovem de 20 anos é morta a tiros durante assalto em São Paulo
Vítima de acidente na BR-174 era jogador de futebol amador em Boa Vista
Avião perde a altitude antes de cair em fazenda no Tocantins e deixar dois mortos
Ponta-grossense de 15 anos morre em acidente nos EUA e família pede ajuda para traslado ao Brasil
Corpo encontrado em Rio no Paraná é de Cristina de Paula, mulher estava desaparecida há sete dias
‘Coração bom’: pescador encontrado morto em rio estava há 3 dias desaparecido em SC