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Bolsonaro veta negociação por redução de pena

4 horas atrás

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reafirmou sua posição contrária a qualquer tipo de negociação que reduza sua pena, mantendo como única saída aceitável a concessão de anistia total. A declaração, confirmada por auxiliares próximos após visitas autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), reforça o impasse político e jurídico em torno do futuro do ex-chefe do Executivo, que cumpre prisão domiciliar. A informação foi revelada em reportagem de Jussara Soares no CNN Prime Time e repercutiu fortemente entre aliados e opositores.

Segundo fontes ligadas ao ex-presidente, Bolsonaro teria rejeitado categoricamente as tentativas de membros do PL de avançarem com um projeto alternativo, que propõe a chamada “dosimetria da pena”. Esse mecanismo permitiria reduzir de forma significativa o tempo de prisão estipulado pelo STF — hoje fixado em 27 anos e 3 meses — em troca da desistência da pauta da anistia total. Para o ex-presidente, aceitar esse caminho equivaleria a um reconhecimento de culpa, o que, segundo interlocutores, vai contra a narrativa que ele sustenta desde o início do processo.

Enquanto Bolsonaro se mantém firme em sua decisão, o Congresso Nacional se vê pressionado a encontrar uma solução viável para a crise política que se prolonga. O deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator da proposta, intensificou as articulações com líderes das duas casas legislativas. O parlamentar busca agendar reuniões com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), na tentativa de destravar as negociações. O desafio, no entanto, é enorme: a relação entre Câmara e Senado atravessa um momento de profundo desgaste institucional.

Esse atrito ficou evidente após o fracasso da chamada “PEC da Blindagem” no Senado, episódio que expôs divisões internas e deixou cicatrizes políticas ainda abertas. Parlamentares temem que qualquer nova proposta que envolva figuras de grande polarização, como Bolsonaro, enfrente resistência semelhante. A preocupação agora é que o clima hostil entre as duas casas inviabilize avanços e prolongue a instabilidade, prejudicando não apenas a pauta da anistia, mas também outros projetos de relevância nacional.

Com isso, Paulinho da Força e seus aliados buscam reposicionar o debate. A estratégia passa por rebatizar a proposta, agora apelidada de “PL da dosimetria”, em clara tentativa de se desvincular da narrativa anterior, conhecida como “PL da anistia”. A mudança de nomenclatura, embora simbólica, busca reduzir a carga política do tema e abrir espaço para um diálogo mais pragmático. No entanto, dentro do próprio PL, a manobra enfrenta resistência: muitos parlamentares consideram que a base bolsonarista dificilmente aceitará uma solução que não contemple a anistia plena.

Especialistas em ciência política destacam que a insistência de Bolsonaro pode ter efeito duplo. De um lado, fortalece sua imagem junto ao núcleo mais fiel de apoiadores, que enxergam nele um líder perseguido e injustiçado. De outro, limita as alternativas práticas para sua situação jurídica, colocando sobre seus aliados a pressão de defender uma pauta considerada inviável por setores expressivos do Congresso e até mesmo por parte do Judiciário. O impasse pode, portanto, transformar-se em um desgaste político prolongado, com consequências tanto para o ex-presidente quanto para o próprio PL.

No cenário atual, a discussão sobre anistia ou dosimetria extrapola o caso individual de Bolsonaro e revela tensões mais amplas no equilíbrio entre os poderes da República. Câmara e Senado tentam retomar protagonismo, mas enfrentam o desafio de lidar com uma base política dividida e uma opinião pública polarizada. Enquanto isso, o STF observa de perto os movimentos do Legislativo, consciente de que qualquer decisão tomada terá impacto direto na percepção da sociedade sobre a força das instituições democráticas. A posição inflexível de Bolsonaro, ao mesmo tempo em que alimenta sua narrativa política, pode acabar dificultando a construção de consensos e prolongando uma crise que já se arrasta há meses.


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