Os acidentes envolvendo motociclistas seguem como uma das maiores preocupações no trânsito brasileiro, refletindo uma realidade alarmante que atinge milhares de famílias todos os anos. A fragilidade desses condutores e passageiros, aliada a fatores como imprudência, excesso de velocidade e condições das vias, transforma pequenos erros em ocorrências de grandes proporções, muitas vezes fatais. Foi exatamente o que aconteceu na manhã da última quarta-feira, 24 de setembro, em Joinville (SC), quando a jovem Liliane Ferreira da Silva, de 26 anos, perdeu a vida em um grave acidente na BR-101.
Segundo informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Liliane estava como passageira em uma motocicleta de aplicativo no momento da colisão. As circunstâncias do acidente ainda estão sendo apuradas, mas testemunhas relataram que a moto tentou mudar de faixa em um trecho de tráfego intenso e acabou atingida por um veículo de maior porte. O impacto foi suficiente para arremessar a jovem ao asfalto, resultando em ferimentos graves que não puderam ser revertidos mesmo após atendimento dos socorristas. O motociclista também ficou ferido e foi encaminhado ao hospital da região.
A notícia da morte de Liliane causou comoção entre amigos e familiares, que encheram as redes sociais de homenagens. Formada em jornalismo por uma universidade privada de Joinville, ela trabalhava como analista de gente e gestão em uma empresa do setor farmacêutico. Em diversas mensagens publicadas online, colegas destacaram sua dedicação, inteligência e sensibilidade no ambiente de trabalho, além de sua alegria contagiante. “Era uma pessoa iluminada, que sempre tinha uma palavra de apoio e incentivo. É difícil acreditar que ela se foi dessa forma”, escreveu uma amiga próxima em um tributo emocionado.
Casos como o de Liliane evidenciam um dilema recorrente nas estradas brasileiras: a insegurança dos motociclistas em rodovias de grande movimento. De acordo com dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), os usuários de motocicletas representam mais da metade das mortes no trânsito no Brasil, e o risco de óbito em acidentes desse tipo é 20 vezes maior em comparação com ocupantes de automóveis. Na BR-101, que corta o litoral catarinense e concentra alto fluxo de veículos pesados, a vulnerabilidade dos condutores sobre duas rodas é ainda mais evidente.
Especialistas em trânsito reforçam que, além da imprudência, a própria dinâmica de trabalho com aplicativos aumenta a exposição ao risco. Motoristas e motociclistas frequentemente enfrentam longas jornadas, pressões por rapidez nas entregas e necessidade de cumprir horários apertados, fatores que contribuem para manobras arriscadas. “Infelizmente, enquanto não houver políticas públicas consistentes e fiscalização mais rigorosa, tragédias como essa continuarão a se repetir”, afirma o engenheiro de tráfego Paulo Mendes. Ele defende ainda campanhas permanentes de conscientização voltadas tanto para motoristas de automóveis quanto para motociclistas.
A morte de Liliane, portanto, não é apenas um dado estatístico. Ela expõe a fragilidade de um sistema que precisa de melhorias urgentes, seja em infraestrutura, seja em educação no trânsito. No caso específico da BR-101, um dos corredores rodoviários mais movimentados do país, acidentes com motocicletas são frequentes e muitas vezes fatais. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) já anunciou projetos de duplicação e melhorias em alguns trechos, mas especialistas apontam que as obras não avançam na velocidade necessária para conter a escalada de acidentes.
Enquanto familiares de Liliane enfrentam o luto, a cidade de Joinville se vê diante de mais um episódio que reforça o desafio de transformar a realidade do trânsito brasileiro. A tragédia que interrompeu a vida de uma jovem profissional, cheia de sonhos e planos, serve de alerta para toda a sociedade. Mais do que números frios em relatórios de acidentes, cada vítima representa uma história interrompida e uma família devastada. O desafio, agora, é transformar a dor em mobilização para que motoristas, motociclistas e autoridades busquem juntos soluções que tornem as estradas menos violentas e mais humanas.