O teatro brasileiro perdeu, nesta quarta-feira (24), uma de suas vozes mais importantes e inquietas: o ator, dramaturgo, diretor e produtor cultural Luis Guilherme Almeida Reis, aos 70 anos. Conhecido pelo público e pela crítica como um dos nomes mais influentes da cena teatral de Brasília, Guilherme faleceu em decorrência de complicações de saúde, após permanecer internado por vários dias. Sua partida encerra um ciclo de dedicação absoluta às artes cênicas, mas deixa como legado projetos e iniciativas que continuam a ecoar pelo país, entre eles o Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília, um dos mais relevantes do gênero no Brasil.
Fundador e principal articulador do festival, criado nos anos 1990, Guilherme transformou Brasília em ponto de encontro de artistas nacionais e internacionais, colocando a capital no mapa das artes cênicas mundiais. O Cena Contemporânea passou a ser referência não apenas pelo alcance da programação, que reunia produções de diversos continentes, mas também pela abertura de espaço para novas linguagens e experimentações. O evento ajudou a formar plateias, impulsionou carreiras e consolidou a ideia de que a cultura pode ser motor de transformação social.
Nascido no Rio de Janeiro e radicado em Brasília desde a juventude, Guilherme construiu sua carreira transitando entre os papéis de ator, diretor, dramaturgo e gestor cultural. Sua inquietação criativa não o permitia limitar-se a uma única função. Atuou em espetáculos marcantes, dirigiu montagens ousadas e esteve à frente de projetos que buscavam democratizar o acesso à cultura. Para ele, o teatro não deveria se restringir a palcos tradicionais, mas ocupar ruas, praças e espaços alternativos, aproximando-se de um público cada vez mais diverso.
Colegas de profissão destacam não apenas sua competência artística, mas também seu olhar visionário e sua generosidade. “Luis Guilherme era um criador nato, alguém que acreditava profundamente no poder transformador do teatro. Sua ausência será sentida, mas sua obra permanece viva”, afirmou a atriz e diretora Adriana Lodi, em nota de pesar. Instituições culturais de todo o país também se manifestaram, ressaltando a importância do festival criado por ele e lembrando que a continuidade do Cena Contemporânea será a melhor forma de manter vivo o espírito de seu fundador.
A trajetória de Guilherme foi marcada por prêmios e reconhecimentos, mas ele nunca se deixou conduzir apenas pelo prestígio. Em entrevistas, costumava dizer que seu maior orgulho era ver jovens espectadores sendo tocados por uma peça de teatro ou perceber que artistas em início de carreira encontravam, em Brasília, um espaço para mostrar seu trabalho. Essa visão formadora fez dele uma figura admirada e respeitada não apenas no meio artístico, mas também entre educadores, gestores culturais e o público em geral.
Nos últimos anos, mesmo enfrentando problemas de saúde, Guilherme manteve-se ativo. Participava da curadoria do Cena Contemporânea, acompanhava ensaios e discutia propostas de novos projetos. Sua dedicação até os últimos dias reforça a imagem de alguém que nunca se afastou daquilo que mais amava: o teatro. Sua morte representa não apenas a perda de um artista múltiplo, mas também o fim de uma era em que ele foi peça-chave para consolidar Brasília como capital cultural.
O velório e o enterro de Luis Guilherme Almeida Reis serão realizados em cerimônia restrita à família e amigos próximos, em Brasília. Enquanto isso, artistas, produtores e admiradores de sua obra prestam homenagens nas redes sociais, relembrando momentos marcantes de sua carreira e agradecendo por sua contribuição inestimável ao teatro. A ausência física deixa uma lacuna imensa, mas a história construída por ele seguirá presente nos palcos, nos festivais e na memória afetiva de todos que tiveram a oportunidade de vivenciar sua arte.