A cidade de Pedra Branca, no sertão cearense, amanheceu em luto nesta sexta-feira (19) após a morte trágica e misteriosa da modelo Gabrielly Moreira, de apenas 16 anos. A jovem, que sonhava em seguir carreira no mundo da moda, foi encontrada sem vida dentro de uma casa em construção, poucas horas depois de sair para um bar com amigos. A notícia provocou indignação, perplexidade e uma onda de questionamentos sobre as circunstâncias em que tudo ocorreu, já que os relatos apresentados até agora levantam mais dúvidas do que respostas.
De acordo com a família, Gabrielly saiu de casa na noite de quinta-feira (18) acompanhada de uma amiga de 18 anos e dois adolescentes. Durante a madrugada, os pais da jovem foram acordados com a notícia de que a filha havia “passado mal” e não resistido. Ao chegarem ao local, se depararam com a cena devastadora: Gabrielly estava caída, sendo atendida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas já sem vida. O espaço onde o corpo foi encontrado estava cercado por pallets, improvisados para impedir a entrada de estranhos, mas que haviam sido derrubados, sugerindo que o grupo entrou por uma brecha.
A situação, porém, logo mostrou indícios de que o caso poderia ser mais grave do que aparentava. O padrasto da adolescente, Hércules Sales, relatou que percebeu escoriações nas mãos e no rosto da enteada, além de marcas semelhantes a arranhões e hematomas espalhados pelo corpo. Mais alarmante ainda foi a constatação de um afundamento na região da cabeça, sinal que pode indicar uma lesão provocada por impacto. “Quando eu vi, percebi que não era apenas uma queda simples, tinha alguma coisa errada”, afirmou. A ausência de uma viatura policial disponível para atender a ocorrência na hora também aumentou a revolta da família.
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, em nota oficial, que apenas o laudo da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) poderá esclarecer a real causa da morte. A investigação, conduzida em parceria com a Polícia Civil, busca reunir provas e ouvir testemunhas para reconstruir os últimos momentos de Gabrielly. Enquanto isso, a população local acompanha com apreensão os desdobramentos, temendo que a tragédia seja mais um episódio de violência contra jovens no interior do estado.
As declarações do grupo que estava com a modelo, no entanto, não têm ajudado a esclarecer o enigma. A amiga de 18 anos, inicialmente, contou à família que Gabrielly havia apenas passado mal e desmaiado. Em outros relatos, porém, a versão mudou. Em uma das narrativas, ela afirmou ter ouvido uma discussão entre a vítima e um dos rapazes, seguida de um barulho forte, encontrando a jovem caída logo depois. Já em outro momento, teria dito que Gabrielly tropeçou e sofreu uma queda. A sucessão de versões contraditórias tem levantado suspeitas sobre a real dinâmica do ocorrido.
Para a família, a hipótese de um mal súbito não se sustenta. Hércules garantiu que a enteada era saudável e nunca apresentou sinais de doenças que justificassem uma morte repentina. Além disso, o fato de a relação de Gabrielly com o grupo ser recente gera ainda mais desconfiança. “Não entendemos por que eles a levaram para uma casa em construção, um lugar sem qualquer vínculo com eles, em vez de pedir ajuda imediatamente”, questiona o padrasto. Essas dúvidas, somadas às marcas visíveis no corpo da jovem, reforçam a pressão por respostas rápidas e transparentes das autoridades.
Enquanto o inquérito avança, familiares e amigos se despedem de Gabrielly em meio à dor e ao sentimento de impotência. A adolescente, descrita como alegre, sonhadora e dedicada, carregava o desejo de conquistar espaço no universo da moda e ajudar sua família. Sua morte precoce não só destruiu planos pessoais, mas também reacendeu debates sobre a vulnerabilidade da juventude em pequenas cidades, a importância da apuração rigorosa de crimes e a necessidade de políticas mais eficazes de proteção. Pedra Branca, agora, clama por justiça e aguarda que a verdade venha à tona para que a memória da jovem não seja silenciada pelo mistério.
